Psicanálise: História, Conceitos e Formação Ética na ABRAFP
- ABRAFP
- 18 de out.
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1. Introdução – A Palavra que Escuta o Inconsciente
A psicanálise é, antes de tudo, uma revolução silenciosa. Mais do que uma técnica terapêutica ou um conjunto de teorias sobre a mente, ela é uma forma de escutar o ser humano — uma escuta que acolhe o que há de mais singular em cada sujeito: sua dor, seus desejos, suas faltas e contradições. Num tempo em que há excesso de informação e escassez de escuta, a psicanálise se reafirma como um campo de resistência simbólica: um espaço onde a palavra tem peso e o silêncio adquire sentido.
Fundada por Sigmund Freud no final do século XIX, a psicanálise ultrapassou as fronteiras do consultório. Tornou-se uma forma de interpretar o mundo, uma chave de leitura da cultura, da arte, da religião, da política e das estruturas sociais. Freud mostrou que o inconsciente não é apenas uma dimensão reprimida da mente, mas o solo pulsante da subjetividade, onde se formam os desejos, os sintomas e as repetições que marcam o destino de cada um.
Ao introduzir o inconsciente no centro da vida humana, Freud inaugurou uma nova ética do saber: a de escutar antes de explicar, compreender antes de julgar. A psicanálise se opõe à pressa interpretativa e ao discurso das soluções rápidas; ela não oferece receitas, mas convoca o sujeito à experiência da palavra, à travessia do próprio desejo. Nessa travessia, a escuta é o principal instrumento, e o inconsciente, o campo onde se inscreve o enigma do ser.
Com o passar do tempo, a psicanálise se tornou também uma ciência da cultura, como observou Lacan: um saber sobre o mal-estar que atravessa a civilização. Em cada época, ela revela as novas formas de sofrimento e as mutações do desejo, sem perder seu compromisso com a singularidade. O analista não é um técnico da alma, mas um guardião da palavra — alguém que sustenta o espaço onde o sujeito pode existir fora das normas que o oprimem.
Essa ética da escuta e do desejo, que inspira o trabalho clínico e o pensamento psicanalítico, é também o que orienta a formação dos analistas ao redor do mundo. No Brasil, uma das maiores escolas de psicanálise, a ABRAFP, mantém viva essa tradição — unindo rigor teórico, reflexão filosófica e compromisso com a liberdade de pensamento.
2. O que é Psicanálise? – Da Origem à Prática Clínica
A palavra psicanálise vem de psyche (alma) e analysis (análise, decomposição). Ela foi criada por Sigmund Freud para nomear um método de investigação do inconsciente — uma dimensão psíquica que se manifesta nos sonhos, lapsos, sintomas e repetições.
A psicanálise nasce da escuta, quando Freud, em diálogo com seu mentor Josef Breuer, percebe que os sintomas histéricos de suas pacientes tinham origem não em lesões físicas, mas em conflitos psíquicos recalcados. Esses conteúdos reprimidos voltavam à consciência de formas distorcidas, como sintomas, sonhos ou atos falhos.
“O sintoma é o retorno do recalcado.” – Sigmund Freud
Dessa descoberta, Freud funda uma nova forma de clínica — uma terapia pela fala (talking cure), que busca dar voz ao que estava silenciado. O método psicanalítico se baseia em três pilares: livre associação, interpretação e transferência.
Psicanálise, Psicologia e Psiquiatria: diferenças fundamentais
Enquanto a psicologia e a psiquiatria se ocupam do comportamento ou das doenças mentais, a psicanálise não busca adaptar o sujeito, mas compreendê-lo em sua singularidade. Ela não elimina o sintoma — o escuta. Porque o sintoma é, para Freud, uma forma de verdade que o sujeito ainda não pôde dizer de outro modo.
A psicanálise, portanto, não é uma ciência normativa, mas uma ética da palavra.
3. Conceitos Fundamentais da Psicanálise
Freud descreve a mente humana como um campo de forças em conflito constante. Para compreender o inconsciente, ele desenvolve conceitos que se tornaram pilares do pensamento moderno:
Inconsciente: o reservatório dos desejos reprimidos.
Recalque: o mecanismo que empurra para o inconsciente aquilo que é insuportável à consciência.
Sintoma: o retorno disfarçado desse conteúdo recalcado.
Pulsão: a força que movimenta o desejo humano, nem biológica, nem espiritual, mas situada entre corpo e linguagem.
Transferência: o fenômeno pelo qual o paciente repete, na relação com o analista, afetos e fantasmas de sua história.
Lacan, reinterpretando Freud, dirá que “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”. Assim, o analista não cura pelo conselho, mas pela escuta — uma escuta que lê os equívocos, os silêncios e os tropeços da fala.
“Quando o corpo fala o que a boca cala, nasce o sintoma.”
Essa frase resume a essência da psicanálise: cada sintoma carrega uma mensagem cifrada. A tarefa do analista é escutá-la sem pressa, sem julgamento, e sem roubar do sujeito a sua própria descoberta.
4. As Principais Escolas e Autores da Psicanálise
A psicanálise se expandiu pelo mundo, originando diferentes escolas e tradições. Cada autor contribuiu com uma forma de ler o inconsciente:
Sigmund Freud – Criador da psicanálise. Formulou as estruturas do aparelho psíquico (Id, Ego e Superego), o conceito de pulsão e o papel do inconsciente.
Carl Gustav Jung – Introduziu o conceito de inconsciente coletivo e os arquétipos, separando-se de Freud em função de divergências sobre a sexualidade.
Melanie Klein – Desenvolveu a psicanálise infantil e o estudo das posições esquizo-paranoide e depressiva.
Donald Winnicott – Criou os conceitos de mãe suficientemente boa, objeto transicional e espaço potencial, fundamentais à teoria do desenvolvimento emocional.
Wilfred Bion – Enfatizou o pensamento como processo emocional e o papel do analista como “receptáculo” da experiência do paciente.
Jacques Lacan – Releu Freud à luz da linguística e da filosofia, reformulando o inconsciente como efeito da linguagem e introduzindo a tríade Real, Simbólico e Imaginário.
Esses autores formam o corpo teórico que sustenta toda a formação psicanalítica contemporânea, inclusive a proposta pedagógica da ABRAFP, que integra o estudo freudiano às releituras lacanianas, kleinianas e filosóficas.
5. A Formação Psicanalítica – Um Caminho de Ética e Desejo
A formação do psicanalista não é uma mera transmissão de conhecimento. Ela é um processo de transformação subjetiva, em que o futuro analista passa pela experiência da própria análise — confrontando-se com seus próprios recalcamentos, desejos e limites.
O percurso formativo clássico se apoia em um tripé:
Análise pessoal – para conhecer o próprio inconsciente;
Supervisão clínica – para refletir sobre os casos atendidos;
Estudo teórico – para sustentar a prática com base conceitual sólida.
Freud dizia que o analista é aquele que se autoriza por si mesmo e por alguns outros. Essa “autorização” não vem de um diploma estatal, mas de um percurso ético e simbólico.
Na ABRAFP, essa perspectiva é mantida em sua totalidade: a formação não busca produzir especialistas técnicos, mas sujeitos capazes de escutar o inconsciente com ética, rigor e sensibilidade.
6. A Formação em Psicanálise na ABRAFP – Filosofia, Ética e Escuta
A ABRAFP – Associação Brasileira de Filosofia e Psicanálise é uma instituição pioneira no ensino livre e rigoroso da psicanálise no Brasil. Desde sua fundação, em 2008, a Associação tem como missão formar analistas conscientes de sua responsabilidade ética e social, articulando a tradição freudiana com o pensamento filosófico.
Com sede em São Paulo e presença nacional, a ABRAFP oferece formações estruturadas em ambiente virtual de aprendizagem (AVA), com disciplinas, fóruns, encontros e supervisões. A metodologia é baseada em aulas assíncronas, leituras dirigidas, produção reflexiva e acompanhamento tutorial.
O curso tem duração de 24 meses e carga horária de 1.440 horas, cobrindo desde a Introdução à Psicanálise até disciplinas avançadas como Lacan II: O Gozo e o Sujeito, Psicanálise e Autismo, Direito, Ética e Psicanálise, e Filosofia e Inconsciente.
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7. A Ética do Psicanalista – Não Ceder Quanto ao Desejo
A ética é o eixo que sustenta a prática analítica. Freud já alertava que o analista não é um conselheiro, nem um guia moral, mas alguém que se coloca em posição de escuta, permitindo que o sujeito fale e, ao falar, se escute.
Lacan retoma essa concepção afirmando:
“A ética da psicanálise consiste em não ceder quanto ao seu desejo.”
Essa ética implica uma neutralidade ativa: o analista não julga, não impõe valores, não interpreta de forma autoritária. Ele oferece ao sujeito um espaço de palavra livre, em que a verdade possa emergir sem coerção.
A ABRAFP adota um Código de Ética próprio, inspirado nos fundamentos freudianos e lacanianos, que orienta a conduta profissional dos analistas e estudantes. Seu princípio é simples e profundo: respeitar a singularidade de cada sujeito, preservar a confidencialidade e sustentar a escuta como ato ético.
8. A Psicanálise Hoje – Escutar o Inconsciente em Tempos Digitais
Vivemos uma era de ruídos constantes, de excesso de estímulos e carência de escuta. As redes sociais, a inteligência artificial e a cultura da performance produziram novas formas de sofrimento psíquico: ansiedade, sensação de vazio, dependência da imagem, hiperconexão e perda do silêncio.
Nesse cenário, a psicanálise permanece atual como nunca. Ela recusa o imediatismo da resposta pronta, convidando o sujeito a escutar o que não se diz — o que escapa, o que insiste, o que retorna.
O inconsciente não desapareceu na era digital. Ele apenas encontrou novos modos de se manifestar: nos comportamentos compulsivos, nos discursos acelerados, nas novas linguagens do gozo e do desejo.
A ABRAFP reconhece essa complexidade e forma psicanalistas preparados para escutar o sujeito contemporâneo, sem moralismo, sem fórmulas e sem reducionismos clínicos.
9. Como Tornar-se Psicanalista com a ABRAFP
Tornar-se psicanalista é um percurso que exige tempo, ética e desejo. O curso de Formação em Psicanálise da ABRAFP é aberto a graduados de diversas áreas — Psicologia, Filosofia, Educação, Direito, Saúde e Humanas — que desejam compreender o inconsciente humano e atuar na clínica com responsabilidade.
O processo inclui:
Entrevista de admissão;
Análise pessoal;
Supervisão clínica;
Estudos teóricos e seminários.
Ao final do percurso, o aluno recebe certificação da ABRAFP, reconhecida nacionalmente como instituição formadora de psicanalistas de orientação freudiana e lacaniana.
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10. Conclusão – A Escuta como Ato de Liberdade
A psicanálise é, antes de tudo, uma forma de libertação simbólica. Ela não promete felicidade, mas verdade; não oferece consolo, mas escuta; não adapta o sujeito ao mundo, mas o ajuda a encontrar sua própria forma de estar nele.
Em tempos em que o barulho domina e a palavra se esvazia, o analista é aquele que sustenta o silêncio fecundo — o espaço onde o desejo pode finalmente ser ouvido.
A ABRAFP, desde 2008, permanece fiel a esse compromisso: ensinar a escutar o humano em sua profundidade, articulando filosofia, ética e psicanálise.
“A ética da psicanálise consiste em não ceder quanto ao seu desejo.” – Jacques Lacan
Leitura complementar
Conheça as obras que fundamentam o estudo da psicanálise e da ética analítica:
