O Plano Pedagógico da ABRAFP: Formação, Ética e Singularidade na Formação do Psicanalista
- Deivede Eder Ferreira

- 17 de out.
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1. Introdução – A Formação como Ato Ético
A formação psicanalítica, tal como concebida pela ABRAFP – Associação Brasileira de Filosofia e Psicanálise, ultrapassa o simples aprendizado de teorias e técnicas. Ela é, acima de tudo, um ato ético, uma travessia subjetiva que convoca o sujeito a confrontar-se com sua própria verdade inconsciente.
Desde sua fundação, em 2008, a ABRAFP nasceu como Associação Brasileira de Filosofia e Psicanálise, registrada sob o CNPJ nº 10.562.488/0001-02, com o propósito de promover uma formação livre e rigorosa, enraizada na tradição psicanalítica freudiana e orientada por um diálogo permanente com a filosofia. Com o passar dos anos, o crescimento institucional, a ampliação dos cursos e o avanço dos programas de formação demandaram uma nova estrutura jurídica, resultando na constituição da ABRAFP Ltda. – CNPJ nº 32.083.499/0001-34, mantendo a mesma identidade institucional, o mesmo corpo fundador e o mesmo compromisso ético.
Essa transição representa mais do que uma mudança formal: simboliza a continuidade de um projeto ético e intelectual iniciado em 2008 — um projeto que se renova sem perder suas raízes. Com sede em São Paulo e marca registrada no INPI sob o nº 924993502, a ABRAFP consolida-se como um espaço de estudo, pesquisa e escuta, comprometido com a transmissão da psicanálise em sua dimensão clínica, filosófica e simbólica.
“A formação do analista é, antes de tudo, um percurso de escuta e de verdade — e não de adaptação.”
Essa concepção atravessa toda a estrutura do Plano Pedagógico Institucional (PPI) da ABRAFP, documento que expressa não apenas o desenho curricular do curso, mas a filosofia de ensino que o sustenta. A formação é compreendida como um processo contínuo, em que teoria, prática e ética se entrelaçam de forma indissociável, orientando cada etapa do percurso formativo.
2. O que é o Plano Pedagógico Institucional da ABRAFP
O Plano Pedagógico Institucional (PPI) é o documento que define os princípios, objetivos e diretrizes que orientam a organização acadêmica e a prática pedagógica da ABRAFP. Ele traduz, em linguagem institucional, a identidade filosófica e epistemológica da Associação, reafirmando que ensinar psicanálise é, também, sustentar uma posição ética diante do inconsciente.
O PPI estrutura a formação psicanalítica como um processo de transmissão simbólica, em que o saber é construído a partir da palavra e da experiência. Assim, a ABRAFP compreende que a formação do analista não se esgota em conteúdos, mas se constitui no campo da fala, no tempo da escuta e no desejo de saber.
Mais do que um currículo, o PPI é uma cartografia de percurso — um guia que orienta o aluno em direção à escuta, à leitura e à ética da psicanálise. Sua base teórica é sustentada pelos grandes pilares do pensamento ocidental: Freud, Lacan, Klein, Winnicott, Bion, e também por interlocuções com a filosofia, a antropologia e a literatura.
A ABRAFP entende o ensino da psicanálise como ato de transmissão, não como técnica pedagógica. O saber, nesse campo, é algo que se transmite de um sujeito a outro, sustentado pela presença, pela palavra e pelo silêncio.
Dentro desse princípio, a instituição oferece três formações distintas, que expressam diferentes tradições e escolas de pensamento psicanalítico, sempre unidas pela ética da escuta e pela liberdade de pesquisa:
Curso de Psicanálise – Formação Livre e Completa Estruturado em módulos teóricos, clínicos e simbólicos, este curso conduz o aluno à compreensão das bases freudianas e à prática da escuta analítica com rigor ético e técnico.
Formação em Psicanálise Lacaniana Direcionada ao estudo da estrutura do sujeito, do significante e do desejo, segundo a leitura de Jacques Lacan. Um percurso voltado à ética do real e à leitura do inconsciente como linguagem.
Formação em Psicanálise Kleiniana Focada na compreensão das primeiras relações objetais e na constituição do ego, segundo Melanie Klein e seus desdobramentos clínicos contemporâneos.
Cada uma dessas formações reflete o compromisso da ABRAFP com uma transmissão que respeita as diferenças teóricas e clínicas, oferecendo ao aluno a liberdade de construir seu próprio percurso analítico e intelectual.
Conheça em detalhes as formações completas da ABRAFP e escolha o percurso que mais dialoga com o seu desejo de escuta e transformação:
3. Estrutura e Metodologia do Curso de Formação em Psicanálise
O Curso de Formação em Psicanálise da ABRAFP tem duração de 24 meses, com carga horária total de 1.440 horas, distribuídas entre aulas teóricas, estudos dirigidos, tutoria simbólica, supervisões e análise pessoal.
Estrutura Curricular
O percurso formativo é composto por disciplinas que articulam teoria, clínica e ética:
Introdução à Psicanálise
Teoria Psicanalítica de Freud I
Psicopatologia Geral
Psicanálise e Psicossomática
Sexualidade Humana e Inconsciente
Metodologia Científica
Teoria Psicanalítica de Freud II
Psicopatologia Psicanalítica
Hipnose e Psicanálise
A Interpretação dos Sonhos
Psicanálise e Cultura
Filosofia e Inconsciente
Antropologia Psicanalítica
Freud III: Pulsão e Supereu
Psicoterapias Breves
Teoria de Melanie Klein
Teoria de Bion
Teoria de Winnicott
Lacan I: O Simbólico e o Desejo
Lacan II: O Gozo e o Sujeito
Ética e Técnica Psicanalítica
Psicanálise e Infância
Psicanálise e Autismo
Direito, Ética e Psicanálise
Cada módulo é pensado como um elo de uma cadeia simbólica, em que o aluno se aprofunda progressivamente na teoria, sem perder de vista a experiência clínica. O curso integra aulas assíncronas, fóruns de discussão, acompanhamento pedagógico e tutoria contínua.
A metodologia combina rigor teórico e liberdade simbólica. Os materiais são elaborados pela equipe da ABRAFP, com referências diretas às obras originais de Freud e Lacan, promovendo o estudo de textos primários e evitando a banalização de conceitos.
4. A Ética Lacaniana como Fundamento Pedagógico
A formação e a prática psicanalítica, conforme compreendidas pela ABRAFP, estão intrinsecamente ligadas a uma ética do desejo e da palavra, tal como formulada por Jacques Lacan em O Seminário, Livro 7: A Ética da Psicanálise (1959–1960).
Essa ética não se orienta por normas morais ou valores convencionais, mas pela responsabilidade do sujeito diante da própria verdade inconsciente. A ABRAFP reconhece que o exercício da psicanálise exige do analista não apenas conhecimento teórico e técnico, mas, sobretudo, postura ética diante do discurso do outro.
“A ética da psicanálise não é a do bem, mas a do desejo.” — Jacques Lacan
A formação promovida pela ABRAFP convida o aluno a compreender que a psicanálise não visa a adaptação ou a normatização, mas o respeito à singularidade de cada sujeito. O analista é aquele que sustenta o espaço da escuta, que acolhe o não-dito e que se abstém de julgar.
A ética, nesse sentido, é constitutiva do ato analítico — não imposta de fora, mas emergente da responsabilidade simbólica de quem escuta. A formação, portanto, não é apenas um processo de ensino, mas um exercício de subjetivação: o futuro analista aprende a escutar-se enquanto aprende a escutar o outro.
5. O Diferencial da ABRAFP em Relação a Outras Instituições
A ABRAFP distingue-se por seu compromisso epistemológico e filosófico com a tradição freudiana-lacaniana, mas também por sua forma singular de articular ensino, ética e cultura.
Enquanto muitas instituições se limitam a oferecer conteúdos técnicos, a ABRAFP propõe um percurso de formação subjetiva, em que cada aluno é convidado a construir seu próprio lugar na psicanálise.
Entre os principais diferenciais, destacam-se:
Integração entre filosofia e psicanálise: a ABRAFP entende que a escuta analítica nasce do pensamento reflexivo.
Tutoria simbólica personalizada: cada aluno é acompanhado por um tutor que o orienta individualmente, respeitando seu ritmo e singularidade.
Rigor teórico com liberdade criativa: o estudo é profundo, mas aberto ao diálogo com a cultura contemporânea, a arte e a literatura.
Ênfase na ética lacaniana: a formação está centrada na ética do desejo, e não em modelos morais ou normativos.
Ambiente virtual humanizado: a tecnologia é usada como meio de presença simbólica, não como substituto do vínculo.
A ABRAFP entende que formar psicanalistas é formar sujeitos do desejo, não apenas transmissores de teoria. Por isso, o processo formativo é vivido como uma travessia: do saber ao não-saber, da teoria à experiência, da fala à escuta.
6. Estrutura, Tutoria e Recursos
O curso é oferecido em Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), que integra aulas em vídeo, biblioteca digital, fóruns de debate, supervisões e suporte técnico. O aluno conta com acompanhamento constante por meio de canais institucionais e atendimento pedagógico personalizado.
Corpo de Coordenação e Tutoria
Coordenação Geral: Fabrício Paes Leão – Psicólogo pela UFMG (CRP 04/34510), Pós-graduado em Psicanálise pela Anhanguera e Licenciado em Letras pela UNAR. Atua como coordenador geral e responsável técnico do curso de Formação em Psicanálise da ABRAFP.
Tutores Efetivos:
Deivede Eder Ferreira – Psicanalista e escritor, pós-graduado em Psicanálise pela Anhanguera. Autor do Dicionário Básico de Psicanálise: Sigmund Freud e fundador da ABRAFP, com trajetória consolidada na transmissão da psicanálise e da filosofia aplicada à formação de analistas.
Conheça mais sobre o trabalho e as publicações do autor:
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Ariana Morgado Ribeiro – Graduada e pós-graduada em Psicanálise pela Anhanguera, mestre em Psicologia Infantil e Adolescente pela ESNECA. Atua como tutora psicanalítica, com ênfase na escuta ética e no acompanhamento simbólico dos alunos, inspirada na tradição de Maria Rita Kehl.
Além dos tutores efetivos, a ABRAFP conta com colaboradores e supervisores convidados, que atuam em projetos temáticos e grupos de estudo, ampliando o repertório teórico e clínico da formação.
Infraestrutura e Direitos Autorais
Todos os conteúdos didáticos originais são de autoria da ABRAFP e protegidos pela Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.610/1998). Os materiais de apoio provenientes de outros autores são devidamente citados e referenciados, conforme as normas de propriedade intelectual e ética acadêmica.
O ambiente virtual oferece ainda acesso a textos clássicos, artigos acadêmicos e obras de domínio público, permitindo ao aluno uma formação bibliográfica ampla e rigorosa.
7. Parcerias e Compromissos Institucionais
A ABRAFP compreende que a transmissão da psicanálise é também um ato social. Por isso, mantém e busca ampliar parcerias com faculdades, centros de pesquisa, organizações culturais e órgãos públicos, com o objetivo de promover projetos de extensão, seminários e programas de formação continuada.
Essas parcerias têm caráter pedagógico e científico, voltadas à difusão da escuta psicanalítica em contextos sociais, educacionais e clínicos. A instituição entende que o diálogo com o poder público é parte essencial do compromisso ético da psicanálise com o laço social.
8. O Compromisso Ético e o Lugar do Analista
O analista formado pela ABRAFP é orientado a sustentar uma escuta ética, livre de julgamentos e orientada pela responsabilidade diante do inconsciente. O compromisso do analista é com o desejo que o move e com a verdade que emerge do discurso do outro.
A ética, nesse sentido, é inseparável do ato analítico. Ela não se reduz a um código, mas se manifesta na posição subjetiva do analista, em sua capacidade de escutar o real que atravessa a palavra.
“O analista só se autoriza por si mesmo... e por alguns outros.” — Jacques Lacan
A formação ética promovida pela ABRAFP busca cultivar essa autonomia responsável: o analista é convocado a responder por seus atos simbólicos, sustentando a escuta e a neutralidade diante do sofrimento do sujeito.
9. A Filosofia e o Inconsciente – Um Laço Singular
O diferencial epistemológico da ABRAFP está na integração entre filosofia e psicanálise. Enquanto a psicanálise desvela o inconsciente, a filosofia oferece o horizonte da pergunta, a inquietude que impede o saber de cristalizar-se.
Essa fusão dá origem a uma formação que não busca apenas compreender o sujeito, mas pensar o humano em sua complexidade ética e existencial. O estudante é convidado a percorrer desde Sócrates até Freud, de Platão a Lacan, reconhecendo que o ato de pensar é também um ato de escuta.
Assim, a ABRAFP não forma apenas psicanalistas: forma pensadores da escuta, sujeitos capazes de sustentar a palavra e a dúvida, o silêncio e o gesto.
10. Conclusão – A Formação como Encontro com o Desejo
Formar-se na ABRAFP é atravessar um caminho que une o rigor teórico à sensibilidade humana, a tradição à liberdade, o inconsciente à palavra. Cada aluno é convidado a construir seu próprio percurso, sustentado pelo desejo de saber e pelo compromisso ético com o outro.
A ABRAFP compreende que a psicanálise não é uma técnica de cura, mas uma prática de verdade. Por isso, o curso de Formação em Psicanálise é concebido como espaço de transformação simbólica, em que o sujeito se encontra consigo mesmo através da fala.
“Na ABRAFP, formar-se psicanalista é atravessar um percurso de desejo e de palavra — um caminho em que o saber não se acumula, mas se transforma.”




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