As Vantagens de Ser Psicanalista: Uma Jornada de Autoconhecimento, Carreira e Sentido
- ABRAFP

- 30 de out.
- 4 min de leitura

1. A vocação que escuta o invisível
Há profissões que se escolhem. E há vocações que escolhem quem as viverá. A psicanálise pertence a esta segunda ordem de destino. Tornar-se psicanalista não é uma decisão pragmática — é uma travessia. É atender a um chamado silencioso que ressoa onde o sofrimento humano se torna linguagem e o desejo pede escuta.
O psicanalista é aquele que, entre ruídos e silêncios, aprende a ouvir o que o outro ainda não sabe dizer. Não se trata de oferecer respostas, mas de sustentar perguntas — perguntas que rasgam o hábito e despertam o sujeito para a sua própria verdade. A escuta psicanalítica é, portanto, uma forma de amor: um amor sem posse, que devolve ao outro o poder de existir a partir de si mesmo.
2. A psicanálise como caminho de autoconhecimento
Antes de ser profissão, a psicanálise é uma experiência radical de autoconhecimento. Freud dizia: “Onde estava o id, deve advir o ego.” Essa frase, que se tornou um marco de toda a psicanálise, revela o cerne de sua vocação: iluminar o inconsciente, compreender o que em nós age sem que saibamos.
O analista só pode conduzir o outro por caminhos que já percorreu. É por isso que a formação psicanalítica começa sempre pela análise pessoal. Não há técnica que substitua o enfrentamento de si mesmo — o confronto com as próprias resistências, recalques e fantasias. Ser psicanalista é aceitar o convite de olhar para dentro, atravessar o labirinto das próprias sombras e emergir com uma nova escuta: mais humana, mais atenta, mais livre.
E é precisamente isso que a formação proposta pela ABRAFP oferece: uma jornada de estudo e transformação subjetiva, em que o saber teórico e o saber vivido se entrelaçam. A filosofia dá fundamento à escuta, e a escuta dá alma à filosofia.
3. A formação do olhar analítico
A formação do psicanalista é um percurso exigente e belo. Não se trata apenas de acumular conceitos, mas de formar um olhar — um modo de ler o humano. Na ABRAFP, essa formação une a solidez teórica freudiana à reflexão filosófica que questiona os limites do próprio saber. O aluno aprende a reconhecer o inconsciente não como uma abstração, mas como uma presença viva nas palavras, nos gestos, nos sonhos e nos lapsos.
Ser psicanalista é aprender a habitar o silêncio. É compreender que o sintoma fala, que o sofrimento tem uma gramática, e que cada sujeito inventa sua forma singular de existir. A filosofia, nesse contexto, não é ornamento — é estrutura. Ela fornece ao analista a base ética para não se perder no poder da interpretação, e a clareza conceitual para distinguir o sintoma da moral, o desejo da culpa, o sujeito do eu.
Aprofunde-se onde o pensamento encontra o inconsciente
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4. A psicanálise como profissão e propósito
A vantagem de ser psicanalista vai muito além de uma carreira: é um modo de estar no mundo. O analista não oferece respostas prontas, mas acompanha o outro na construção de um sentido. Ele é testemunha do nascimento simbólico do sujeito, e, ao mesmo tempo, aprendiz permanente da condição humana.
Do ponto de vista profissional, a psicanálise oferece autonomia, flexibilidade e profundidade. O analista pode atuar em consultório, instituições, escolas, comunidades terapêuticas ou espaços de pesquisa. Pode lecionar, escrever, supervisionar, e sobretudo — pensar. Mas sua verdadeira vantagem está no que nenhum título garante: a possibilidade de viver com propósito.
Ser psicanalista é fazer da escuta um ofício e da alteridade um caminho. É resistir à lógica do consumo e da pressa para sustentar o tempo do desejo — o tempo do humano.
5. O lugar do psicanalista no mundo moderno
Vivemos uma época de urgência. A pressa substituiu o pensamento; o imediatismo, a escuta; e o prazer, o desejo. Nesse cenário, o psicanalista é quase um guardião do intervalo — aquele que preserva o espaço entre a palavra e o sentido.
Como escreveu Byung-Chul Han, “a aceleração não produz nada de novo; apenas destrói o que exige tempo para amadurecer”. A análise é, então, uma forma de resistência. O consultório torna-se o último espaço onde o sujeito pode parar, falar, errar, desejar — sem ser julgado, sem ser medido, sem ser interrompido.
A vantagem de ser psicanalista é justamente esta: trabalhar com o que o mundo tenta calar. Freud, em 1930, já havia percebido que o mal-estar da civilização nascia da repressão de nossos impulsos. Hoje, o mal-estar é outro: a impossibilidade de sustentar um vazio. E é nesse vazio — nesse silêncio fértil — que o analista opera.
6. Entre o ofício e o chamado
No fim, ser psicanalista é muito mais do que uma profissão. É um chamado ético e poético. É aceitar que o inconsciente existe, que o desejo é enigmático, que o amor é sempre falta — e que, ainda assim, vale a pena escutar.
O analista não cura; ele acompanha. Não explica; ele sustenta. Sua vantagem não está no domínio do saber, mas na arte de não saber demais — de se deixar surpreender pelo que emerge do outro e de si mesmo.
A psicanálise não promete felicidade, mas oferece sentido. E talvez não haja vantagem maior do que essa: viver uma vida em que o sentido nasce do encontro com o humano.




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